quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O retrato





trecho:


Eu me calei, fiquei muda, não queria mais ouvir, meu mundo de congelamentos instantâneos acabara naquele momento, e eu não registrei o que certamente foi pra mim um dos dias mais tristes; ele fez as malas, juntou tudo que tinha , levou algumas fotos, que pra ele nem tinham tanto valor como pra mim, mas ainda assim as levou. Alguém bateu à porta, eu abri, e dei um abraço forte em uma amiga que eu particularmente considerava, foi com ela que ele partiu.
Peguei tudo que me lembrava nossos momentos e tranquei naquela sala, cobri o quadro com um belo tecido e meu coração se encheu de ódio. Mais tarde, vi nos jornais a noticia de sua morte. Já se passaram cinco anos e ainda não entrei na sala.
Hoje estou diante da porta, daquilo que um dia chamei de paraíso, tive a impressão de voltar no tempo, vi nós dois deitados no tapete assistindo a um filme que eu adorava e que ele nem gostava, mas sempre assistia comigo; não tenho coragem de abrir a porta. Estou sentada aqui há horas à luz acabou e agora eu tenho uma porção de velas, elas diminuem a cada instante, se apagam com vento que entra não sei por onde. Chove lá fora e eu ainda estou naquele flash back, - porque ele me deixou? - ainda me pergunto. Mas sinceramente as velas vão se apagando e eu ainda não tenho a resposta, depois de tanto tempo, percebo que as fotografias já não têm tanta importância, queria ver o quadro novamente, mas não tenho força pra abrir a porta, nem pra encarar teus belos olhos.
Foi então que tomei coragem, abri a porta, olhei o quadro descoberto pelo tecido vermelho, já repleto de teias de aranha, ele olhou pra mim, as velas se apagaram, o amor terminou. Eu o matei.

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