domingo, 11 de outubro de 2009

PASSADO DESEJADO


É nunca vai ser como antes.
Eu sei, e to cansada de todo mundo me repetir que nada na vida permanece igual, nada na vida pode ser congelado. Mas a minha teimosia fica martelando minha memória, eu queria mergulhar nas nossas fotografias, nos dias ensolarados, nos dias que havia felicidade, tudo que eu queria era fazer com que a vida voltasse um pouquinho no tempo. Mas eu não sou Deus, nem qualquer coisa do gênero pra mecher com a tempo, o que eu faço é andar pela rua cantarolando nossas músicas, discursando nossos diálogos e imaginando nó sentados um do lado do outro de mãos dadas, eu fico repassando a primeira rosa, o primeiro beijo, mais eu fico imaginando como seria se voce soubesse de tudo, como seria e o que você teria feito. E eu fico analisando a sua expressão na foto, eu fico pensando o que seria agora. Mas, tem sempre um mas, eu nem sei se agente daria certo, é que por conhecer tanto, por entrar tanto no teu universo, não sei se hoje o eu e você de mãos entrelaçadas ficaria tão bem naquela imagem na tela no computador. É que o passado mesmo incomodando agente, mesmo nos fazendo felizes com as memórias, mesmo que eterno enquanto dure, não é a realidade, as fotos nunca voltarão, e você provavelmente jamais será o mesmo, assim como eu.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O retrato





trecho:


Eu me calei, fiquei muda, não queria mais ouvir, meu mundo de congelamentos instantâneos acabara naquele momento, e eu não registrei o que certamente foi pra mim um dos dias mais tristes; ele fez as malas, juntou tudo que tinha , levou algumas fotos, que pra ele nem tinham tanto valor como pra mim, mas ainda assim as levou. Alguém bateu à porta, eu abri, e dei um abraço forte em uma amiga que eu particularmente considerava, foi com ela que ele partiu.
Peguei tudo que me lembrava nossos momentos e tranquei naquela sala, cobri o quadro com um belo tecido e meu coração se encheu de ódio. Mais tarde, vi nos jornais a noticia de sua morte. Já se passaram cinco anos e ainda não entrei na sala.
Hoje estou diante da porta, daquilo que um dia chamei de paraíso, tive a impressão de voltar no tempo, vi nós dois deitados no tapete assistindo a um filme que eu adorava e que ele nem gostava, mas sempre assistia comigo; não tenho coragem de abrir a porta. Estou sentada aqui há horas à luz acabou e agora eu tenho uma porção de velas, elas diminuem a cada instante, se apagam com vento que entra não sei por onde. Chove lá fora e eu ainda estou naquele flash back, - porque ele me deixou? - ainda me pergunto. Mas sinceramente as velas vão se apagando e eu ainda não tenho a resposta, depois de tanto tempo, percebo que as fotografias já não têm tanta importância, queria ver o quadro novamente, mas não tenho força pra abrir a porta, nem pra encarar teus belos olhos.
Foi então que tomei coragem, abri a porta, olhei o quadro descoberto pelo tecido vermelho, já repleto de teias de aranha, ele olhou pra mim, as velas se apagaram, o amor terminou. Eu o matei.